sexta-feira, junho 26, 2020

ATARI 26/06/20


Estrutura quase negra
Detalhes horizontais
Imagem, delírio, fascínio
Mergulho na imensidão
Recanto de porta aberta
E olhares tão fraternais
 O tempo corre moroso
É notório e nunca em vão

Os cipós a certa altura
 O abismo em tua fome
 Chamas e escorpiões
 Barris, joias e troncos
Avião rumo ao norte
Oceano que nunca dorme
Navios e helicópteros
O jato vem pelos flancos

Há, blocos de gelo
Gaivotas às pressas
 Crustáceos desatinados
Urso, os peixes e ostras
 Surge o labirinto!
E suas paredes espessas
Fantasmas, fugas e caos
Sorte e êxito noutras

Névoa, curvas, troféus
 Faróis, carros, deslizes
Noite, olhos atentos
Perigo logo à frente
Batalha épica no cosmos
Sangue e cicatrizes
 Vilões dos mais variáveis
Nave feroz, imponente

Medo e obstáculos
 Incertezas da sua chegada
 Pássaro entre as nuvens
Pulos e insegurança
Edifício, perseguição
Carrinhos, bolas, escada
 Malas, bolsas, dinheiro
Lei que nunca se cansa

Submarino, missão, resgate
 Inimigos e tubarões
Pressa e desespero
O fim se aproxima agora
 Sapo sobre os caules
Tartarugas e caminhões
 Cobras e crocodilos
Travessia asfalto afora.

sábado, junho 13, 2020

TACOS EM TOM RUBRO 09/05/2020

O friso claro e as frestas bem vastas
Formigas ordeiras nas  paredes azuis
Os azulejos beges e dispersas as cartas
Janela aberta e o sentimento tão suis.

Tacos em tom rubro e às costas os pregos
Falhas eventuais e uns e outros à solta
Sonata ao canto massageando os egos
O chiado da tevê e a alegria à casa envolta.

Escovas e presilhas na robusta penteadeira
O véu que cobre o berço há pouco montado
Na copa a estrutura vermelha de madeira
A leve sensação e o inexistir do grande fardo.

Sob o tecido verde os sonhos misteriosos
A janelinha à espreita com teus mil segredos
A bagunça do porão e seus itens preciosos
O quarto dos fundos incitando os nossos medos.

As trilhas no muro e a sua arma tão eficaz
As folhas que acobertam dezenas de soldados
As tímidas flores num jardim que há muito jaz
A bela vista da antena e os pardais enfileirados.

CAIS 28/04/2020

As pedras. O cais. O náilon
As ostras. Crustáceos. Peixes
Calçadas. Corrimão. Estátuas
Harmonia. A Luz . Os feixes.

As iscas. As ondas. O verde
O simples. As joias. O raro
Irmandade. O tempo. A paz
Horizonte. O sangue. Amparo.

A panela. O alvoroço. Respingos
Maresia. Compensação. Odores
As Vozes. Assombros. Sorrisos
Cotidiano. Liberdade. Fulgores.

O regresso. A paz. Diversidade
O asfalto. As escadas. O portão.
Fogo brando. Aroma. A espera
O amor. Precariedade. União.

BANDEIRAS DUVIDOSAS 05/04/2020

Eles ladram enfurecidos e enxergam
em olhos alheios. Como vermes se
 arrastam, e dão as faces ao sol da
 verdade. Se enclausuram, numa
 redoma infestada de arrogância,
 e hasteiam bandeiras duvidosas
 ao vento.

As notícias são favoráveis? Os olhos
 se vendam, as bocas se fecham, os
 ouvidos não captam nenhum som...
E assim vão seguindo com suas vidas
 norteadas pela suposta moral, pelos
 princípios que julgam ter. Nesse mundo
repleto de dúvidas, vão disseminando
a ignorância disfarçada de amor. E
sempre sobre a onda do que lhes convém!

TEMEROSOS BUEIROS 30-03-2020

O tempo escorre em sua exatidão
As águas levam as nossas opiniões
pelos inúmeros e temerosos bueiros
Ah! Se soubessem o quão fortes somos!
Que há imprudência, irresponsabilidade...
O chão demarca os insignificantes passos
E o que haveremos de ter em comum?
A terra inóspita. O vento gélido. O esquecimento.
Bandeiras tremulam em prol do monstruoso ego
A vida definha. O ódio impera. O amor se esvai...
Não culpo a ninguém. Somos irrelevantes...
Hoje, vi pálidas mãos estendidas ao próximo
Vi o breu emanando de ti, na mais crua claridade
As noites, os dias, as tardes... Estamos todos à beira de um gigantesco orifício, e lá dentro apenas o vazio.

LABIRINTO NO NEVOEIRO 03/03/2020

Traços. Rabiscos. Olhos que nada veem
Calmaria. Inércia. Imerso em rios revoltos
Ave contra o vento. Textos que não se leem
Fuga da caverna. Alheios, ao medo envoltos.

Choros. Risos. Tão certo quanto o infinito
Loucura. Lucidez. O vigor da intolerância
Indiferença velada. Portão, a mim, restrito
Força propulsora. Reflexo da insignificância.

Tardes. Melancolia. Horizonte cinza, simétrico
Deuses. Mitos. Imposições compassadas na voz
Sujeira em teto de vidro. Gesto prozaico e tétrico
Mundo triste e hostil. Conduta penosa e atroz.

Estradas. Desertos. E a cachoeira ali, abundante.
Sussurros. Gritos. A plenitude em sua revoada
Labirinto em um nevoeiro. Juízo, a muitos, infante
O túmulo para si próprio. O alvo na sua emboscada.

quinta-feira, junho 11, 2020

RUAS DE PEDRAS 29/02/2020


São os pingos de chuva nas telhas quebradas
Os insetos afoitos pelas hortas e barrancos
O aroma inconfundível nas inesquecíveis manhãs
O som característico dos modestos barquinhos.

São os olhos esperançosos ao nascer do dia
As coadjuvantes razões tímidas e serenas
O ímpeto de ir além das misteriosas montanhas
As mãos aconchegantes por todas as noites.

São as ruas de pedras como trilhas do aconchego
As vozes estridentes dos amigos inesquecíveis
A poeira sobre o rosto à beira de lindas árvores
Os sorrisos sarcásticos juntamente com os choros.

São decepções inexistentes num tempo de ouro
Os laços inquebráveis mas bastante enfraquecidos
A simplicidade que se esgueirava à porta de todos
A certeza de um sentimento incorruptível, imensurável.

domingo, setembro 22, 2019

O ÁLBUM AZUL 22-09-2019


Dos respingos de alegria à plenitude do âmago
De uma tarde tão vazia aos sorrisos afluentes
À entrada do latíbulo, quinze raras divindades
A sapiência e o júbilo com traços resilientes.

Do absoluto caos à complexidade de um refúgio
Intenso como Naos, a esperança e amor salvos
Um labirinto intrincado, com três cores fundidas
Oceano em noite calma, nuvens e pássaros alvos.

Dos percursos antes vãos a confiáveis estradas
Na sonoridade dos refrãos, o nascer do novo mundo
Na quietude da consciência, tua voz transcendental
E o transpor do impossível sobre um solo fecundo.

Das fugas por frias portas a aparições veementes
Nas inconsistentes rotas, o alívio de meu suplício
Numa gélida alvorada, a viagem a velhos recantos
O amor em sua essência, a anos-luz do precipício.

quinta-feira, setembro 12, 2019

PARA SEMPRE 12-09-2019

Dos encantos e primores à nostalgia
Do vazio em suas cores à beleza pura
No círculo espelhado há quinze deusas
Movimentos avessos a minha clausura.

Dos traços escuros o mistério da espera
Sem grandes muros a chegada da alvura
O corpo presente e a mão que demarca
Para sempre nas almas a sua brandura.

Dos fundos do quadro o olhar confiante
O nome ao lado da imponente figura
Os riscos abaixo do vermelho e amarelo
A simetria perfeita em toda a estrutura.

Dos mergulhos diários à atenção do dizer
À margem dos calvários sem a armadura
Em cada frase escrita o esmero do tempo
Há amor, há paixão, há tristeza e há cura.

NAVEGANTE 06-09-2019

noite se fez e logo após a regressão
Como há anos, o corredor e os portões
Andei por uns metros e os vi sorridentes
O corpo e a mente em ocultas distinções.

Era nítido o ocorrido, e algo extraordinário
O diálogo difícil e norteado pela insanidade
Mas o raciocínio de ambos em pura sintonia
Deixou às claras tudo na abstrata realidade.

Os anjos de antes e suas faces tão confusas
Os cabelos queimados e o olhar desentendido
Foi-se por uns minutos com a sua indagação
Ideias conflitantes do que possa ter havido.

A nós, a Irmandade, e tudo em panos limpos
O velho em trajes novos e a mente como anciã
A ampulheta quase finda e a lâmina que fere
Preso nesse cárcere e adepto a um novo clã.

O futuro se revelou em seus vinte e quatro anos
A volta inesperada e os dizeres tão importantes
Mas em um segundo me vi em confusa escuridão
O tempo me escolheu dentre os raros navegantes.